Rosa Forte: Cancro significa... um dia de cada vez!

sábado, 3 de outubro de 2020

Cancro significa... um dia de cada vez!

Quando somos jovens, aparentemente saudáveis e de repente nos diagnosticam cancro, sentimos que, para nós, é o fim de tudo

Os projectos de vida, que tínhamos para esta existência, são abruptamente cancelados. Já não vão acontecer. 

Casar? Quem é que vai querer casar com alguém doente? Filhos? Quando nos dizem que será impossível tê-los, porque nos vão provocar uma menopausa muito precoce para sobrevivermos mais algum tempo. Trabalho? Quem é que vai dar trabalho a alguém que num dia está mais ou menos bem, mas no seguinte já não se consegue levantar da cama? Já nada disto, em princípio, vai acontecer.

Depois, dizem-nos que existem muitos tratamentos e que, afinal, cancro é uma doença crónica nos nossos dias. Mas entretanto, dizem-nos que já temos metástases, e que a doença que temos é incurável. Então é a confirmação do fim, do fim de nós. 

É então que começamos a aprender novos vocábulos: grupo oncológico, radioterapia, cirurgias de estabilização, quimioterapia, hormonoterapia, cintigrafia, marcadores tumorais, tratamentos paliativos.

Depois de tomarmos consciência do nosso diagnóstico, aprendemos uma lição básica: viver um dia de cada vez. Porque, no fundo, é tudo o que temos. 

Acabam-se, pura e simplesmente, os planos para médio e longo prazo. Não temos mais isso. Tudo o que temos é o dia de hoje, é "o pão nosso de cada dia". 

No entanto, também nos apercebemos de uma coisa: afinal, isso é o que todos temos, doentes ou saudáveis.

Nós, doentes, temos consciência que temos  um "prazo de validade" inferior, com muito mais sofrimento à mistura, muita solidão, mas no fundo, todos morreremos um dia. E não sabemos que dia será esse. Portanto, acabamos por aceitar/acostumar com esse infortúnio do destino. 

Por isso, torna-se imperativo aproveitar os dias de energia que temos, de contemplar a natureza que nos rodeia, de admirar as nossas pessoas e lhes agradecer o apoio e companheirismo. é tempo de introspecção e de crescimento espiritual. 


O cancro muda-nos. Já não sou mais a menina de cabelos longos e corpo de manequim. Em questão de meses, aparento ser mãe de mim própria. 

Tornei-me outra pessoa. 

Um dia de cada vez, é tudo o que tenho e começa a bastar-me.

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